finalmente assisti “ainda estou aqui” e eu fico impactada com as coisas que vi que eu já sabia do nosso cinema, mas ainda assim é bom manter a história viva, sempre se relembrar, e é lindo ter orgulho e paixão pelo cinema nacional. esse filme faz uma coisa que há anos eu não via, ele te transporta com entranhas, garras e unhas, cheiros, músicas e de um jeito muito simples e direto pra dentro da história; que facilmente você se encontrará com a sua história e dos seus também; e não é nenhum sufoco acompanhar o que acontece ali, apesar do peso. é um filme sobre um crime da ditadura mas não é pesado e difícil de engolir. é um filme de família, de uma família brasileira, uma obra muito honesta, nua e crua sim mas nada agressiva e ainda assim, totalmente agressiva e bárbara; a história do brasil - inclusive fui sendo instigada por uma avalanche de emoções durante o filme: eu precisei pausar algumas vezes pra chorar e ficar olhando pra janela ou pro teto. o filme acabou e eu fiquei quieta por alguns instantes, era como se não quisesse ver ou falar com ninguém. e ainda tô um pouco assim!
se você ainda não sabe do que tô falando, “ainda estou aqui” conta a história de uma família que até então vivia tranquila como uma família deveria viver. mas estamos falando da história real da família paiva, que na década de 70, no rio de janeiro, tiveram seu pai, rubens paiva, cassado e morto pela ditadura militar. entretanto, apesar do corpo nunca ter sido encontrado, só vão ter certeza da morte do pai mais de 25 anos depois do crime, por conta de uma busca incessante de eunice paiva, a mãe da família. o filme é inspirado no livro homônimo de marcelo rubens paiva, filho de rubens paiva, e dirigido por walter salles e estrelado totalmente brilhante por fernanda torres, que vive eunice paiva. esse estado de eunice é uma lição de vida, a favor da vida, ela se reinventou das próprias sombras, tristezas e angústias. ela ensina a gente a lidar com esses tempos sombrios que estamos vivendo. uma protagonista de verdade, e o filme, é um filme feminista com todas as letras.
tudo é feito com delicadeza, huminadade mas ainda assim, um soco no corpo. impossível não se lembrar de “ainda estou aqui”, impossível não celebrar um passo bonito para o nosso cinema, e muito mais impossível não continuarmos de olhos bem abertos para com a nossa história e os nossos direitos humanos.